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Exposição Descaminhos | Imagem e Deriva
A deriva, conceito desenvolvido pelo filósofo e ativista político francês Guy Debord, envolve caminhar sem um objetivo definido, permitindo que o ambiente e a cidade dite o curso da exploração. Na arte contemporânea, provoca artistas a romper com as normas estabelecidas e criar outras formas de interação com o ambiente, o público e si próprio.
Em minhas derivas, observando os mobiliários de iluminação pública, detectei algo que sempre me incomoda esteticamente nos centros mais urbanizadas: a completa desordem neste tipo de equipamento, especialmente no que tange aos fios e cabos que compõem as várias redes: elétrica, tefelonia, internet, etc. De toda forma, este caos me fez refletir esteticamente sobre ele e sublimá-lo, me dando as bases que eu precisava para expurgar essa minha ogeriza pelo aspecto mal acabado dos postes e instalações elétricas tão presentes.
Assim, utilizei inicialmente a fotografia como elemento de registro e observação. Parti, em seguida, para desenhos de pose rápida e depois desenvolvi gravuras em linóleo, onde elaborei versões em preto e branco, bem como versões em cores, transformando as referências em elementos visuais estéticos a partir de um momento estático do caos. Fiz também a transposição para tela através de pinturas, onde consegui explorar melhor as texturas e luminosidade dos volumes, sem perder a essência do contraste e apresentando um novo olhar sobre a paisagem urbana.
A série “Descaminhos” foi desenvolvida entre 2023 e 2024, onde, ao final, apresentamos um conjunto misto de linguagens artísticas e caminhos estéticos diversos, tendo a arte como ponto de partida e de solução para algo que se apresenta ruim, desorganizado, caótico e que causa poluição visual, entre outros males à todas as grandes cidades.
Daniel da Hora é artista visual, professor, curador e pesquisador em Artes Visuais.
Texto e imagem: Daniel da Hora.