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Nota de repúdio contra o racismo

publicado: 27/09/2022 09h19, última modificação: 09/12/2022 10h01

O Centro Acadêmico de Jornalismo Vladmir Herzog e os docentes do CCTA prestam solidariedade à aluna vítima de racismo nesta última quarta (12)

 

MANIFESTAÇÃO DO CENTRO ACADÊMICO VLADIMIR HERZOG 

O Centro Acadêmico de Jornalismo Vladimir Herzog da UFPB vem, mais uma vez, denunciar um caso de violência na instituição. Dessa vez, uma estudante negra passou ontem à noite por um caso de racismo, quando tentou entrar na Universidade junto de outro colega negro e foi barrada pelos seguranças, que questionaram para onde iriam e alegaram que não iriam poder prosseguir.

Outro detalhe importante, inclusive, é que o caso aconteceu logo após um rapaz entrar tranquilamente na Universidade. O racismo institucional que se configura na nossa Universidade já não é incomum há um tempo. 

A Universidade deve ser livre para todos e casos como esse não devem passar batido! Toda nossa solidariedade à vítima e às tantas outras que sofrem essa e outras violências diariamente. Até quando casos como esse vão fazer parte da nossa rotina?

*obs.: As providências formais contra o ato estão sendo tomadas e toda forma de preconceito deve ser repudiado e exposta à comunidade. Este é um espaço democrático e está sendo utilizado para denunciar casos de violência que ocorrem diariamente em nossa Universidade.

 ***

NOTA DA VÍTIMA

" A universidade é o local onde estudo, me alimento, faço atividades física, assim como todo mundo da comunidade. Sempre estou por lá com minha bike. Já fui abordada por outro guarda quando estava pegando terra em uma composteira para plantar. Na ocasião, tive medo, pois o guarda não estava identificado e não falava nada, apenas me olhava.

Para quem se pergunta o que eu estava fazendo na universidade ontem, se é que isso vem ao caso, eu estava indo mostrar a universidade para um homem preto, que mora e trabalha em João Pessoa e que nunca pôde acessar esse espaço que majoritariamente é ocupado por pessoa brancas. Para quem não sabe, o feriado é o único dia livre para quem precisa vender força de trabalho para servir os privilegiados (...)

Ficamos na dúvida se poderíamos entrar, mas como vimos um movimento lá dentre e um rapaz entrando tranquilamente, fomos em frente. Dois guardas nos intimidaram - o que já é assustador para quem se sente ameaçado por quem anda fardado e armado. Eles apenas disseram que a gente não poderia entrar e nossa reação foi a de recuar por medo mesmo. Não tive coragem de perguntar o porquê do rapaz que tinha acabado de entrar tranquilamente podia e nós não. Sabemos o porquê.

Enfim, mais um caso diário. Só que numa instituição que é a minha casa hoje, um lugar onde eu deveria me sentir segura e a vontade em qualquer dia da semana e em qualquer horário (...)

Diante, principalmente dos questionamentos, não me sinto segura e fortalecida pela comunidade de alunos para me expor e enfrentar um guarda que anda armado no mesmo espaço que preciso estudar e me alimentar. É a minha palavra contra a dele.

(...)

Isso é sobre segregação de espaço! isso é sobre pessoas pretas terem que desviar o caminho para não ocupar o espaço de quem não nos quer lá. Racismo digno não de dó, mas de chamar a atenção para a responsabilidade de todes"

***

MANIFESTAÇÃO DOS DOCENTES DO CCTA

Nós, professoras e professores do Centro de Comunicação, Turismo e Artes da Universidade Federal da Paraíba (CCTA-UFPB), apoiamos a denúncia de agressão racista cometida em 12 de outubro de 2022 contra duas pessoas negras que foram intimidadas quando tentaram entrar na UFPB. Exigimos apuração da denúncia de que guardas da equipe de segurança da Universidade intimidaram duas pessoas que desejavam usufruir do ambiente universitário. Não é segredo que, enquanto pessoas brancas circulam livremente na UFPB, as pessoas negras são continuamente enquadradas.

Declaramos que nós vamos acionar todos os canais institucionais para denunciar e debater esse problema.

Não podemos aceitar uma simples punição individual. Mesmo que agressores individuais devam responder por seus atos, sabemos que essa violência é institucional e estrutural. Temos que encarar o racismo sistêmico da UFPB.

Não podemos jogar todo o peso do problema nos guardas. Entendemos que eles são trabalhadores explorados e que existe todo um treinamento por parte de empresas e Estado para proteger o patrimônio de homens cis brancos burgueses heterossexuais. As empresas de segurança e os órgãos policiais e prisionais induzem seus agentes à brutalidade. A Superintendência de Segurança Institucional da UFPB precisa responder pelos inúmeros casos de agressão a estudantes.

Não podemos deixar esse caso ser absorvido pelo período eleitoral. Temos que agir para além das disputas por cargos e das políticas de governo.

E, sobretudo, não podemos nos acomodar com cartas de repúdio. Precisamos de ações efetivas articuladas com reflexões profundas. Os agressores vão começar a entender que, quando eles mexerem com qualquer pessoa, eles estarão mexendo com centenas de professoras e professores, com centenas de pessoas técnicas-administrativas e com milhares de estudantes.

A UFPB precisa deixar de ser um espaço segregado.

Finalmente, se entendemos que devemos reagir e nos unir na UF, o que pensar de todas as violências cometidas fora dos muros universitários?

Vamos andando e pensando. Uma hora, a maré vai virar.

Direção do Centro de Comunicação, Turismo e Artes-CCTA e Departamento de Jornalismo-DEJOR

Redação do departamento de Jornalismo - DEJOR