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Expo. Arte Eficiente
João Pessoa, Setembro 2016.
As práticas artísticas são “maneiras de fazer” que intervêm (...) nas maneiras de ser e formas de visibilidades (RANCIÈRE, 2005).
As práticas expressivas apresentam um aspecto político marcante e cada manifestação artística tem seu papel na sociedade contemporânea. O que Rancière intitula de “partilha do sensível” são as “práticas de evidências sensíveis” que revelam a existência do comum e dos recortes que definem lugares e partes intercomunicantes, nas quais a “arte” tem papel preponderante. Quando tratamos da produção expressiva de grupos sociais historicamente marginalizados, abordamos a arte como ato político, como ação, como intervenção sociocultural.
Na origem da arte moderna, em princípios do século XX, as vanguardas históricas (cubismo, fauvismo, surrealismo, expressionismo, etc.), absorveram a chamada “arte infantil” e deram o nome de “arte pura”, tornando-a referência para a produção de vanguarda. A arte das crianças e jovens com deficiências foi elencada no hall da arte “outsider”, que incluía a produção das pessoas com doenças e/ou deficiências mentais, das crianças e dos povos autóctones, fora dos centros europeus.
No Brasil os primeiros artistas de vanguarda a trabalhar com crianças foram os modernistas, Anita Malfatti recebia crianças em seu ateliê para pintar livremente. A Escola Nova, também influenciou a produção expressiva das crianças, a Escolinha de Arte do Brasil criada pelo artista/educador Augusto Rodrigues foi fundamental para propagar esse tipo de produção em todo o país. A arte/educação brasileira caminhou paralelamente a educação especial em vários momentos, contando com representativas figuras como Dona Noêmia Varela. Hoje, diante do paradigma da “Inclusão” que vem modificando o desenvolvimento e inserção social das pessoas com deficiências e limitações, e com a promulgação da Lei Brasileira da Inclusão em 2015, as universidades passaram a absorver projetos de inclusão em todas as áreas, na UFPB uma das pesquisas vigentes é o Projeto “Artes Visuais & Inclusão”.
A Expo Arte Eficiente é fruto do trabalho iniciado em 2014/2015 e continuado em 2016, a partir do projeto de pesquisa ação/extensão “Artes Visuais & Inclusão” desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Arte, Museus e Inclusão, sob a minha coordenação, junto ao Instituto dos Cegos da Paraíba Adalgisa Cunha, a Fundação Centro de Apoio ao Portador de Deficiência (FUNAD), a Vila Vicentina Júlia Freire e a Associação Ame Down da Paraíba, com o apoio do Prolicen UFPB e tem como intuito angariar apoio e parcerias para a continuidade das suas atividades.
A Pinacoteca UFPB com apoio do Comitê de Inclusão e Acessibilidade (CIA) apresenta ao público de João Pessoa uma exposição que questiona o termo “deficiência”, resignificando-o como “Eficiência”. Ao valorizarmos as habilidades e potencialidades das pessoas (jovens e idosos), em detrimento das limitações, possibilitamos que a expressão criativa, a melhoria da autoestima, a socialização e acima de tudo, a realização pessoal de pessoas colocadas socialmente à margem, possam assumir o protagonismo de criar seus próprios trabalhos expressivos e expô-los a toda comunidade sem limitações.
Referência:
Jacques Rancière. A partilha do Sensível: estética e política. Trad. Mônica Costa Netto. São Paulo: EXO/34, 2005.